A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu originalmente a eritroplasia como “qualquer lesão da mucosa oral que se apresente como placas aveludadas vermelho-vivas e que não podem ser caracterizadas clínica ou patologicamente como qualquer outra condição reconhecível”. Não existe uma definição universalmente aceite de eritroplasia oral; no entanto, a maioria das definições modernas são mais ou menos abreviadas da definição original da OMS. A definição mais usada na literatura descreve a eritroplasia oral como uma “mancha vermelho-vivo que não pode ser caracterizada clínica ou patologicamente como qualquer outra lesão definível”.
Tem sido utilizada terminologia adicional, como eritroleucoplasia, leucoeritroplasia e eritroplasia pontilhada para descrever a mistura de manchas vermelhas e brancas.
Etiopatogenia
- Muitos dos principais fatores etiológicos do cancro oral são fatores contributivos ou etiológicos no desenvolvimento da eritroplasia.
- Observou-se que esses fatores contribuem para a transformação maligna da eritroplasia. Porém, o seu papel na etiopatogenia da eritroplasia é pouco compreendido.
- Estes são principalmente mascar bétele e tabaco, outros hábitos tabágicos e consumo de álcool. Outros possíveis fatores etiológicos implicados incluem o IMC e estado nutricional.
- O papilomavírus humano (HPV) também foi indicado como um possível fator contributivo ou cofator etiológico.
Por que são vermelhas?
- A análise histopatológica deverá revelar displasia (variando de leve a grave), carcinoma in situ ou carcinoma de células escamosas em 60 a 90% dos casos. Essas descrições microscópicas explicariam a coloração vermelho-escuro das lesões.
- Verificar-se-á falta de queratina superficial, que normalmente seria dispersa e reduziria a intensidade da cor vermelha.
- Deverá observar-se também também uma redução na profundidade da camada epitelial; portanto, a vasculatura presente no tecido conjuntivo é mais visível da superfície.
- Finalmente, o número de estruturas vasculares parece aumentar em resposta à inflamação.
Epidemiologia
- A taxa de prevalência varia de 0,02 a 2%, aproximadamente.
- Em comparação com outras OPMDs, é amplamente aceite que a prevalência de eritroplasia é menor.
- Parece não haver predileção de género, apesar de estudos anteriores relatarem maior incidência em indivíduos do sexo masculino.
- A eritroplasia parece ocorrer principalmente em indivíduos de meia-idade e idosos (Reichart e Philipsen, 2005).
- Não há distribuição geográfica conhecida da eritroplasia. No entanto, a prevalência é visivelmente maior em populações com hábitos tabágicos pré-existentes e de mascar bétele.
Manifestações Clínicas
- Apresenta-se como uma mácula ou mancha vermelho-vivo com uma textura suave e aveludada.
- Tipicamente macio à palpação, com endurecimento observado apenas em casos de malignidade.
- Geralmente, as lesões apresentam contornos irregulares mas bem definidos. Contudo, a superfície poderá ter apresentação granular.
- É geralmente assintomática. Os pacientes podem relatar dor inespecífica ou sensação de ardor na área. Foi também reportado sabor a metal.
ERITROLEUCOPLASIA
- As áreas vermelhas mostram atrofia ou enfraquecimento do epitélio e, ao contrário da eritroplasia ou da leucoplasia, podem apresentar margens irregulares.
- Normalmente, a eritroleucoplasia está associada a sintomatologia.
- O pavimento da boca (mucosa por baixo da língua), ventre da língua, palato mole, pilares amigdalinos e a mucosa oral são os locais relatados como os mais afetados.
- As lesões são normalmente pequenas (menos de 1,5cm), embora já tenham sido relatadas lesões maiores (>4cm).
- A eritroplasia raramente afeta múltiplos locais.
- Nos casos de transformação maligna, os pacientes podem apresentar sinais e sintomas de carcinoma de células escamosas oral (CCEO).
- Não existe uma classificação de eritroplasia amplamente aceite.
Figura 1: Eritroplasia disseminada afetando homogeneamente o bordo lateral esquerdo da língua e eritroplasia homogénea afetando homogeneamente a mucosa oral posterior direita.
Diagnóstico Diferencial
A lista de diferenciais inclui as lesões da mucosa oral com apresentação eritematosa. A candidíase eritematosa e o líquen plano atrófico são frequentemente indicados como os mais recorrentes.
A candidíase eritematosa e a estomatite protética podem ser distinguidas de eritroplasia, uma vez que as áreas eritematosas são frequentemente resolvidas com instruções de higiene oral/dentes e tratamento com antifúngicos, tanto sistémicos quanto tópicos.
A candidíase eritematosa pode ser assintomática, com áreas eritematosas centrais localizadas na superfície do dorso da língua, com lesão reflexiva que afeta o palato.
Outras infeções microbianas podem apresentar manifestações orais, como manchas vermelhas que afetam a mucosa oral, incluindo histoplasmose e tuberculose.
O líquen plano atrófico tende a apresentar-se sintomaticamente, com características do LPO, como estrias brancas afetando outras áreas da mucosa oral. As manifestações orais do lúpus eritematoso sistémico (LES) são frequentes e podem incluir eritema inespecífico.
Diagnóstico
- Uma lesão solitária com bordas bem demarcadas ajuda o profissional a distinguir clinicamente a eritroplasia de outras alterações.
- Estas podem ser descobertas incidentalmente pelos médicos dentistas, solicitando o posteriormente o encaminhamento do paciente.
- A biópsia urgente é essencial para excluir alterações neoplásicas.
- As características histopatológicas que podem ser encontradas foram descritas acima, como epitélio fino e atrófico, ausência de queratina e hiperplasia. A principal técnica de coloração utilizada pelos histopatologistas no diagnóstico da eritroplasia é a hematoxilina e a eosina.
Transformação Maligna:
- A taxa de transformação maligna varia entre 14 e 50%.
- Muitas lesões vermelhas podem apresentar carcinoma in situ ou doença invasiva no momento do diagnóstico.
- A presença de displasia moderada a grave representa um risco consideravelmente maior de transformação maligna.
- Uma revisão sistemática recente calculou o risco geral de transformação maligna em 33,1% e uma taxa de transformação maligna anual de 2,7%.
Tratamento e Prevenção
Tendo em conta o grande risco de transformação maligna, o tratamento precoce é crucial.
- A excisão cirúrgica é o tratamento de escolha.
- Há falta de estudos sobre o acompanhamento após a excisão cirúrgica e os resultados do tratamento.
- Não há diretrizes sobre a margem exata a ser excisada. Geralmente é ditado pelo grau de atipia celular identificada.
- A excisão a laser de dióxido de carbono tem sido usada recentemente como alternativa à excisão com bisturi, por ser associado a uma cicatrização mais favorável da área e conforto no pós-operatório.
- A taxa de recorrência após a excisão é desconhecida. No entanto, o tamanho da lesão excisada tem sido um fator preditivo significativo.
- Outras terapias, incluindo vitamina A, retinoides, bleomicina e uma combinação de chá verde e chá preto não apresentaram resultados suficientemente favoráveis para que a sua utilização seja defendida.
- Deve ser recomendado o abandono de hábitos recreativos associados a maior risco de transformação maligna.
Acompanhamento:
- Não há período de acompanhamento sugerido para eritroplasia.
- O aumento do tamanho, hábitos recreativos de alto risco (tabagismo/álcool), locais de alto risco (ventre da língua e pavimento da boca), alteração na aparência clínica e desenvolvimento de sintomas podem ditar a repetição da biópsia de uma lesão.
- Uma fotografia clínica tirada nas consultas de acompanhamento é útil para avaliar objetivamente quaisquer alterações na aparência da lesão.
Síntese
A definição mais amplamente aceite de eritroplasia é “qualquer lesão da mucosa oral que se apresente como placas aveludadas vermelho-vivas que não podem ser caracterizadas clínica ou patologicamente como qualquer outra condição reconhecível”. Hábitos tabágicos e consumo de álcool, mascar bétele e mutações genéticas podem desempenhar um papel na etiologia. A eritroplasia é a OPMD com a menor taxa de prevalência e a maior taxa de transformação maligna. Considerando a alta taxa de transformação maligna, a biópsia incisional precoce é indicada para identificar alterações neoplásicas precoces. O tratamento de escolha para lesões de alto risco (displasia grave e carcinoma in situ) é a excisão cirúrgica. O acompanhamento regular é necessário e o limite para biópsia é baixo.
Apesar da maior taxa de transformação maligna entre as OPMDs, a eritroplasia continua a ser a menos compreendida. A falta de pesquisas deixa muitas questões sobre etiologia, prevalência, diagnóstico e tratamento da eritroplasia.
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